No dia 31 de dezembro, normalmente as pessoas realizam todo o tipo de prospecções para o ano seguinte, comumente fazendo votos positivos de renovação, esperança e saúde.
Ainda que tivéssemos uma mente altamente pessimista ou criativa, dificilmente imaginaríamos que, em pleno primeiro semestre de 2020, enfrentaríamos a maior paralisação global das últimas décadas. Sim, ocorreram outras tantas crises: conflitos armados, crises políticas e econômicas, endemias sanitárias, mas podemos dizer, categoricamente, que essa crise surgiu de forma insidiosa, com um aspecto frágil, quase que propositalmente para que as sociedades abaixassem suas guardas, na verdade, ocultando todo o seu potencial destrutivo que acabou gerando um verdadeiro caos mundial.
Um antigo provérbio japonês já dizia: “O guerreiro deve encontrar a paz frente ao caos.” Acredito que vivenciamos até o momento três importantes etapas comportamentais: pânico, aceitação e adaptação.
Nas primeiras semanas de quarentena, todos sentimos no ar, por meio da consciência coletiva, uma sensação de medo diante das possíveis mudanças que nos aguardavam; o que seria de nós presos em casa? E quanto aos nossos trabalhos? Nossa renda? Contas? E a ausência de liberdade? Só de relembrar brevemente de tais perguntas, com facilidade, despertamos um estresse interno latente. Essa fase foi superada depois de alguns tantos dias em que, nitidamente, as pessoas aceitaram a nova realidade, de fato nós, seres humanos, somos excelentes na adaptação ainda que detestemos as mudanças repentinas. Nessa etapa, o medo se transformou em conformismo. Vale lembrar que a inquietude dos homens foi a principal responsável de estarmos no estágio evolutivo atual, portanto estar numa zona de conformismo por longos períodos não parece ser algo inato ao Homo sapiens. Sendo assim, tão logo, essa fase foi superada pela adaptação.
Assim como a flor de lótus, que surge em meio ao lodo, as pessoas seguem buscando meios de adaptação encarando a nova realidade, cultivando novos importantes valores que estão muito acima de efusivos abraços e manifestações públicas de afeto tão característicos dos países latinos de “sangue quente”. A verdadeira manifestação de amor e respeito é realizada ao apagar das luzes, ações puras que residem no anonimato.
Incríveis adaptações operacionais e morais vêm surgindo com a crise, talvez essa imposição dada pela natureza nos articule com a energia Yin mais pura: envolvente, calma, solidária, criativa e maternal. Foi somente com uma “pausa” obrigatória que tivemos a oportunidade de nos reconstruirmos como espécie, conectando-nos com a beleza da nossa própria capacidade adaptativa.
Finalizo com o conceito de “Dokyo” desejando o melhor a todos!
“Otimismo e coragem para seguir em um caminho desconhecido.”